Após os mega hits dos singles "Alive", "Even Flow" e "Jeremy", a gravadora Epic Records queria que a canção "Black" fosse o 4º single do álbum de estréia do PEARL JAM, “Ten” (1991), mas a banda sentiu que esta clássica música já tinha por si só um grande apelo comercial e para aliviar a tensão dos lançamentos dos primeiros 03 singles, o grupo resolveu escolher a canção reflexiva e pacífica que foi “Oceans”
Se tornando conhecido pelas suas músicas estelares, cheias de tensão e temperadas por um hard rock com levadas funk rock, o PEARL JAM escolheu uma canção mais calma para o seu 4º single para aliviar a dor acumulada das outras músicas incluídas no seu disco de estréia.
Esta atitude foi a 1ª que o PEARL JAM foi contra as solicitações do mainstream - e definitivamente não foi a única - ao lançar essa música tranquila em meio ao furacão alto, agressivo e cheio de dor nas ondas do grunge refletido pelos holofotes – e foi aí que eles se separaram dos seus contemporâneos.
“Oceans” foi lançado a tempo para entrar nos feriados do final de ano - em 07 de Dezembro/1992 - 01 dia depois do lançamento do single "Angry Chair" (do ALICE IN CHAINS), e 01 semana após do lançamento do single "In Bloom" (do NIRVANA).
Comparado aos singles citados acima, “Oceans” foi uma canção tranquila e fora da curva representando o single final do álbum “Ten”, e destacou o alcance além dos horizontes que as habilidades do PEARL JAM poderiam alcançar - exibindo uma diversidade que continuou ao longo de toda a sua carreira ao querer se distanciar do rótulo midiático. Em meio ao caos e turbilhão que o grunge proporcionou a todos os envolvidos, com “Oceans” ainda poderia haver paz e apenas ficar desfrutando das maravilhas que é a natureza ao longe de toda a dor.
O vocalista Eddie Vedder canta: "Você sabe que alguma coisa foi deixada / E todos nós estamos permitidos a sonhar com a próxima". Para alguns, o rock alternativo dos anos 90 e o grunge geralmente eram sobre negatividade, de modo que "permitir-se sonhar" desafiava como o gênero era/é definido.
Em entrevista para o site Seattle Sound em 2009, Vedder comentou sobre essa música:
"Alguém me pediu para colocar as moedas no parquímetro do estacionamento no estúdio onde estávamos ensaiando. Eu fui lá, mas depois que eu saí do estúdio a porta se fechou e ficou trancada, sendo que estava chovendo e eu não tinha nenhum guarda-chuva ou uma capa para me proteger. Eu tinha um pedaço de papel e uma caneta no meu bolso e a banda estava tocando esta canção pela 1ª vez lá dentro do estúdio. Tudo o que eu conseguia escutar era somente o som do baixo que atravessava a parede, pois as janelas também estavam trancadas. Então, eu escrevi as letras ouvindo a linha do baixo e nem tinha escutado a música desde o início. Quando ouvi que eles deram uma pausa, comecei a bater na porta para que eu saísse da chuva... Enquanto eu estava lá fora escrevendo as letras, me lembro de ter pensado: ‘Porra! Eu também posso escrever alguma coisa..."
Como Eddie Vedder afirma após a apresentação da banda no acústico da MTV em 1992: "Uma pequena música de amor que eu escrevi sobre a minha prancha de surfe".
Literalmente no meio do álbum “Ten”, o PEARL JAM vai contra as normas encaixando a silenciosa canção “Oceans” em seu disco de estréia.
Nos anos que se seguiram, a banda continuou a demonstrar o seu tema de paz em várias músicas, prevalecendo bastante no seu 4º álbum de estúdio e o mais experimental de todos, “No Code” (1996), onde os mesmos ritmos tribais dessa vez foram acelerados em polirritmias na canção "In My Tree" - outra canção que se curou da dor ao olhar para a natureza em relaxamento e reflexão – mas para obter o ritmo exclusivo para "Oceans", o 1º baterista a passar pela banda, Dave Krusen, usou da sua singularidade e o engenheiro de mixagem, Tim Palmer, ficou sacudindo um frasco de pimenta e usou discretamente um extintor de incêndio para desencadear uma sensação exótica e única.
Em uma entrevista para o site The Line of Best Fit em 2016, o guitarrista e um dos compositores dessa música, Stone Gossard, revelou por quê “Oceans” é a sua canção preferida do álbum “Ten”:
"Isso provavelmente resume o motivo pelo qual eu fico empolgado com o processo em compor músicas. É como dessintonizar de propósito, onde o 1º acorde atravessa adiante e são apenas 02 dedos que entram e se desligam para criar o todo da música. Depois eles se movem para baixo somente em uma posição e voltam novamente para o início. Existe uma pequena mudança, mas também apresenta 03 grandes movimentos... O que eu amo no que diz respeito às músicas são os acordes estéticos, sabe? Quanto mais simples, melhor, e depois surge outro conjunto que faz algo com aqueles acordes originais, deixando-a com um arranjo realmente simples".
Nesta mesma entrevista, o outro compositor dessa canção - o baixista Jeff Ament - também revela que "Oceans" é a sua música favorita do álbum de estréia do PEARL JAM:
"Quando a gravamos, imaginei que estávamos abrindo uma caixa e enxergando que havia muitos outros lugares que poderíamos alcançar musicalmente. Eu também gosto da introdução e de como ela termina, que foi tipo um projeto de arte que criamos num dia em que soubemos que alguém da banda estava doente. São essas coisas que me deixa mais empolgado quando criamos uma canção que fica um pouco fora da nossa zona de conforto”.
Confira o vídeo clipe da música “Oceans”:
Rock in The Head
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