A história dos The Breeders começa, na verdade, nos desentendimentos de Kim Deal com Francis Black no tempo dos Pixies. Depois de tentativas de agressão em concertos, da reivindicação de Deal de querer assumir um papel mais preponderante na composição das músicas, tornou-se notório que os Pixies eram o recreio de Frank Black e, se Kim Deal queria brincar, a única hipótese era constituir a sua própria banda. Apesar de ter fundado os The Breeders ainda na vigência dos Pixies, só em 1993, com o segundo álbum - Last Splash -, a banda atinge o reconhecimento generalizado, muito devido ao single Cannonball.
Depois disso, a história não é muito rica e ficou essencialmente marcada por um par de álbuns pouco relevantes. Agora, 25 anos depois, a banda volta a reunir-se com o alinhamento que compôs e interpretou Last Splash e o resultado é All Nerve, o seu quinto disco e o primeiro em 10 anos. É impossível ouvir o álbum e não sermos remetidos para as poucas vezes que Kim Deal pôde participar nas composições de músicas dos Pixies, com a Gigantic à cabeça: rock descomplexado, pausas e momentos marcados pela preponderância do baixo, com riffs de guitarra simples mas melódicos e assertivos.
De resto, All Nerve começa em grande - com a sublime Nervous Mary - e continua em modo particularmente inspirado na faixa homónima e em MetaGoth ou Spacewoman. Na segunda metade do disco, é notório um ligeiro declínio mas, ainda assim, acima da média dos dois últimos álbuns. De destacar, também, a forma ímpar como as irmãs Deal - Kim e Kelley - continuam a complementar-se na interpretação vocal das suas canções.
All Nerve é um compêndio de rock alternativo, que remete imediatamente para o início dos anos 90, para o tempo dos Pixies, para a memória dos Nirvana e com um piscar de olho aos pais fundadores, os Sonic Youth. É como se o álbum se tivesse, de facto, cristalizado no tempo, mas sem soar desajustado ou datado.
Por: Filipe Lamelas, sabado.pt
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