terça-feira, 30 de junho de 2020

Alice in Chains: resenha sobre a canção "Rooster"


A música "Rooster" do ALICE IN CHAINS foi a homenagem do guitarrista Jerry Cantrell ao seu pai veterano da guerra do Vietnã  e mostrou um lado diferente da parte sombria da banda.

Através de várias revistas das antiga que possuo, além de documentários em fitas de vídeo-cassete, DVD, livros, álbuns originais, biografias e consultas cibernéticas, fiz um apanhado de algumas entrevistas que Jerry Cantrell concedeu ao longo do tempo, se referindo sobre a canção e videoclipe da música "Rooster".


Esta clássica canção pode ter se tornado uma das músicas definidoras da banda, mesmo vinda de origens humildes. Quando Jerry Cantrell se viu temporariamente sem-teto no início de 1991, ele procurou ajuda em uma lenda do grunge: “Eu estava morando em vários lugares diferentes naquela época”, lembra Cantrell, “então, fui morar na casa de Chris Cornell e sua esposa na época, Susan Silver, em Seattle. Susan era a empresária do ALICE IN CHAINS e fiquei algumas semanas numa pequena sala".

Sozinho, tarde da noite, os pensamentos de Cantrell continuavam se voltando para o seu pai, cujas cicatrizes psicológicas do seu serviço na guerra do Vietnã tinham contribuído para o colapso da sua família alguns anos antes: “Essa experiência no Vietnã o mudou para sempre”, explica Cantrell, “e certamente teve um efeito em nossa família, então, acho que também foi um momento decisivo na minha vida".

"Ele não nos abandonou, nós que o deixamos... Estávamos num ambiente que não era bom para ninguém, então, partimos para morar com a minha avó em Washington e foi lá que eu fui para a escola.

Durante a minha vida, eu não tinha muito o meu pai por perto, mas comecei a pensar bastante nele durante esse período que eu estava morando na casa de Chris”.

Sentado na frente de um gravador de quatro faixas, mal sabia ele que a música que saiu de dentro dele estaria na prateleira dos maiores clássicos do rock'n roll. Com letras angustiantes sendo escritas do ponto de vista do seu pai, descrevendo o "suor ardente" e o "mosquito da morte" durante uma caminhada pela selva num conflito imaginário com os vietcongues.

O título da canção (Galo) era o apelido dado ao pai de Cantrell pelo seu bisavô: "Aparentemente, ele era um garotinho arrogante e o cabelo dele costumava se armar na cabeça como uma crista de galo".


Cantrell continuou: “Eu certamente tive ressentimentos como qualquer jovem faz numa situação em que os pais não estão por perto ou a sua família está dividida, mas nas letras da música 'Rooster', eu estava tentando pensar sobre o lado dele, sabe? O que ele passou naquelas situações... Para ser sincero, eu realmente não me sentei com a intenção de escrever sobre isso, apenas meio que saiu de mim".

Ele complementou: "Mas é uma ótima canção e às vezes ela pode chegar mais fundo do que você jamais faria em uma conversa com alguém, tipo, é mais um fórum para se aprofundar".

ALICE IN CHAINS já tinha a sua parcela de sucesso com o seu álbum de estréia, "Facelift" (1990), junto com o single "Man in The Box", mas a música "Rooster" foi sem dúvida a primeira canção a anunciar para o mainstream a profundidade do talento da banda.

Cantrell lembra que “pareceu uma grande conquista para mim como jovem escritor”, e esse sentimento ecoou quando ele tocou a fita demo para o vocalista Layne Staley, o baixista Mike Starr e o baterista Sean Kinney.

Quando chegou ao ponto de gravarem a música "Rooster", a banda se envolveu anteriormente em proveito próprio numa outra arte. “O diretor Cameron Crowe já havia nos procurado para pedir uma música para o seu filme Singles - Vida de Solteiro, de 1992”, lembra Cantrell. “Então, na sessão que foi feita para gravar a canção 'Would' (que entrou na trilha sonora do filme), tínhamos terminado as demos, tipo, umas 10 músicas mais ou menos, incluindo todas as canções que lançamos em nosso 2º trabalho de estúdio, o EP 'Sap' (1992), além da música 'Rooster' e algumas outras que foram lançadas no álbum 'Dirt' (3º trabalho de estúdio, 1992)”.

 
A canção "Rooster" foi gravada no Eldorado Studios, na Sunset Boulevard em Los Angeles, que a banda co-produziu com Dave Jerden: “Acabou sendo realmente poderosa”, observa Cantrell, “e a maneira como Layne cantou foi incrível”.

Igualmente poderoso foi o videoclipe, no qual o diretor Mark Pellington (recém-gravado o clipe da música "Jeremy" do PEARL JAM) intercalou cenas de brutalidade no estilo do filme Apocalypse Now com entrevistas com o pai de Cantrell.

“O meu pai nunca havia falado sobre esse período de sua vida e relutava em fazê-lo se alguém lhe perguntasse”, lembra Cantrell. "Então, fiquei surpreso que ele concordou em fazer o pedido de Mark Pellington para o clipe, o que durou 01 hora mais ou menos".

"O meu pai foi totalmente legal, calmo, aceitou tudo e se divertiu fazendo aquele vídeo", acrescentou Cantrell nas notas do box set de coletâneas do ALICE IN CHAINS de 1999, "Music Bank". “Até o levou ao ponto de chorar num certo momento... Ele me disse que foi uma experiência estranha e triste o que ele passou na guerra e esperava que ninguém mais tivesse que passar por aquilo que ele vivenciou”.
Lançado em 1993 como o 4º single do álbum "Dirt", a música "Rooster" recebeu elogios imediatos, tanto entre os seguidores do grunge quanto de outras tribos.

"Eu já estive em todo o mundo", explica Cantrell, "e conheci médicos que estavam na guerra no Iraque e eles me falaram como existe uma grande quantidade de pessoas que possuem uma afinidade profunda com essa música, sabe? Recentemente, recebi uma carta de um soldado no Iraque que me disse que a sua unidade havia mudado o codinome para Rooster. Obviamente, é uma pena que os caras ainda tenham que lutar por fins políticos, mas é legal que as pessoas se conectem com essa música para também fazer parte da vida deles”.
No entanto, em última análise o maior triunfo da canção "Rooster" foi pessoal. Contra todas as probabilidades, a música reparou o relacionamento fraturado entre pai e filho.
“Quando eu toquei a canção pela primeira vez para o meu pai”, lembra Cantrell, “perguntei se havia chegado perto de onde ele poderia estar emocionalmente ou mentalmente naquela situação e ele me disse: 'Você chegou perto demais, filho. Realmente bateu na minha cabeça'. Significou muito para ele que eu escrevi e compus essa música e isso nos aproximou. Foi bom para mim a longo prazo e também para ele”.

 



rockinthehead

Nenhum comentário:

Postar um comentário