Jerry Cantrell: "se apresentar sem Layne Staley pela 1ª vez, foi curativo e importante"
ALICE IN CHAINS é uma das bandas de rock mais duradouras de sua geração.
O mais sombrio e pesado grupo dos Big Four do grunge, o quarteto de Seattle nascido sob a ponte Ballard ajudou a preparar o palco para a descoberta nacional do movimento rock que definiu uma era, combinando riffs e ritmos de lama escura, baladas taciturnas e as emocionantes harmonias vocais de duas partes do falecido vocalista original, Layne Staley, e do guitarrista/compositor, Jerry Cantrell.
Seu álbum de estreia em 1990, “Facelift”, que recentemente recebeu o tratamento de reedição do 30º aniversário e se tornou o primeiro disco grunge a ganhar o certificado de Ouro, preparou o cenário para uma tomada de controle da cultura popular por uma improvável brigada de desajustados de Seattle. A banda suportou as perdas de dois membros fundadores, Staley e o baixista original, Mike Starr, antes recrutando o baixista Mike Inez da banda solo de Ozzy Osbourne e neste século atual, o amigo de Cantrell na sua banda solo, William DuVall (vocal/guitarra), para ajudar a continuar o legado do ALICE IN CHAINS.
E agora em dezembro de 2020, o Museu de Seattle (MoPOP) irá homenagear os grandes nomes do rock de Seattle, ALICE IN CHAINS, com seu Prêmio Founders - uma homenagem que funciona como a grande arrecadação anual de fundos para o museu e que celebra o seu 20º aniversário
Com a pandemia frustrando uma jam presencial com estrelas convidadas, o evento será virtual e pré-gravado com uma programação mais empilhada do que nunca.
ALICE IN CHAINS incluiu amigos e colegas do METALLICA, Billy Corgan (frontman do SMASHING PUMPKINS), KORN, Ann Wilson (vocalista do HEART), Duff McKagan, Krist Novoselic (baixista do NIRVANA), Mark Lanegan, membros do SOUNDGARDEN, Mike McCready (guitarrista do PEARL JAM), Tad Doyle (vocalista do TAD), Eddie Vedder e Jeff Ament também do PEARL JAM, Tom Morello (guitarrista do RAGE AGAINST THE MACHINE) e muitos outros.
E para marcar o momento, o jornal Seattle Times conversou com os membros fundadores do ALICE IN CHAINS, Jerry Cantrell e o baterista Sean Kinney, para tratarem sobre as provações e triunfos de uma banda que nunca será deixada de lado na história do rock.
Seguem alguns trechos dessa entrevista:
Jornalista: Vocês não se importam muito com elogios, mas o que significa para vocês ser reconhecido por uma instituição de Seattle como o MoPOP?
Jerry Cantrell: De que estávamos pensando em começar essa banda no Music Bank (local de ensaio) sob a ponte Ballard em 1987. Você meio que passa pela vida e lida com o que está à sua frente, mas de vez em quando você olha para trás e tem a oportunidade de fazer isso.
Cantrell: É uma coisa incrível... Muito respeito por Paul Allen e pelo amor e cuidado que ele tinha pela música e pelos artistas. Além disso, fazer parte de alguns desses prêmios Founders para Jimmy Page, THE DOORS e John Fogerty, onde fui um participante homenageando o artista e agora estou sendo o artista homenageado, recebo de forma muito humilde mesmo. Muitos de nossos compatriotas, amigos de outras bandas e artistas que admiramos contribuíram para isso. Eu ainda não vi todos eles desde que a pandemia começou e estou propositalmente esperando para ver todos eles no evento.
(Sean Kinney entra na chamada).
Kinney: Olá, a entrevista pode realmente começar agora. Seja lá que merda Cantrell estava dizendo, pode jogar no lixo porque o cara está aqui agora.
Jornalista: (risadas) Hey, seja bem-vindo, Sean. Esses eventos fazem vocês refletirem sobre esta época inicial, especialmente com Layne Staley e Mike Starr?
Cantrell: Com certeza... Quando estávamos fazendo as apresentações para o Prêmio Founders, também recebemos os prêmios destinados a Mike e outro para Layne, para que pudéssemos dar às suas famílias. Eles estão sempre conosco.
Kinney: Pra mim, pessoalmente, metade do caminho para seguir em frente é devido ao que nós quatro criamos e que outras pessoas criaram depois, onde tivemos um público que se importou. Sabe, a vida fica muito complicada e uma hora ela pode te derrubar, sendo que estas situações não são exclusivas para nós. A única coisa única sobre isso é que acontece com todo mundo. É um problema, porque você se torna uma lápide ambulante para os seus irmãos e também é uma coisa linda, porque as pessoas querem prestar respeito. Mas lembremos que somos humanos e é difícil... Eu pessoalmente não estava preparado - como você poderia estar preparado? - para lidar com essas coisas. Cada um de nós construiu o seu próprio conjunto de armadura ao longo do tempo.
Jornalista: Jerry, você mencionou terem começado a banda no antigo Music Bank. Você tinha acabado de voltar do Texas e sua mãe e avó tinham falecido. O que significou para você ter a banda se unindo quando isso aconteceu?
Cantrell: É meio engraçado, porque nunca fui criado com muitos dogmas religiosos, mas eu acredito que existe um equilíbrio na natureza e um fluxo, onde descobri muitas vezes nos momentos mais difíceis - aqueles chutes reais que a vida vai te dar - que geralmente o universo lhe oferece alguma opção. Para o que é tirado, uma coisa nova é dada e eu sempre senti que estava "recebendo" os caras da banda em minha vida. Recebi uma nova família para começar de novo e depois, quando as coisas aconteceram do jeito que foi com a nossa banda no início dos anos 90, aumentamos a nossa família e apenas continuamos.
Jornalista: O disco “Facelift” foi um dos álbuns fundamentais para o movimento rock de Seattle da época. 30 anos depois, como você vê esse disco?
Kinney: Eu não passo muito tempo olhando para trás... Coletivamente, não fazemos isso do jeito que a maioria das bandas fazem, tipo, relançar um álbum no aniversário de 20 ou 25 anos do disco. Esta é a primeira vez que fazemos algo assim e levou 30 anos.
Kinney: Recebemos ótimos conselhos da nossa empresária na época, Susan Silver (então esposa de Chris Cornell) e de nossos advogados para lutar pelos direitos de poder escolher as nossas músicas e fazer do nosso jeito. Ouvir a canção "Man in The Box" soou muito lenta e deprimente para a rádio e eles diziam que nunca iria funcionar bem, mas nós dizíamos: "Não, isso é legal! Nós entendemos! Mas qualquer coisa, consulte a página 262 do contrato. Nós vamos apenas lançar e ponto final!" E funcionou, pois sempre fizemos o que queríamos e quando queríamos e isso nos deu muita liberdade.
Jornalista: Em torno do disco “Facelift”, vocês fizeram uma turnê pela Costa Oeste Americana com os caras do PEARL JAM quando eles ainda eram chamados de MOOKIE BLAYLOCK. Alguma lembrança dessa turnê?
Cantrell: O senso de comunidade. Foi divertido e era tudo novo. Todos nós gostamos uns dos outros e todos nos demos bem. Não havia um monte de celebridades querendo aparecer... Enquanto todos estavam focados em seus pequenos grupos particulares, você não ignorava o fato de que o todo tinha mais poder do que as bandas individuais. Você podia sentir essa coisa crescendo.
Cantrell: Você nunca poderia esperar que pudesse realmente fazer isso, ser um artista de verdade, sabe? A possibilidade disso realmente começou a entrar em foco e é o que mais me lembro, a possibilidade de poder acontecer... E também havia a sensação de que finalmente os "mocinhos" estavam ganhando, porra!
Kinney: Me lembro de quando tudo mudou, quando estávamos saindo em turnê junto com o SLAYER e outras bandas do metal. Éramos a banda de abertura daquelas turnês, com a plateia chovendo palavrões sobre nós nos shows. Houve muita resistência e críticas das pessoas, mas realmente queríamos abraçar aquilo.
Kinney: Então, de repente, você pôde sentir: "Onde está aquele ódio todo?" Foi uma espécie de choque, tipo: "Então, agora todo mundo gosta de nós?" Estávamos 01 ano em turnê recebendo hostilidade das pessoas e agora, de repente, bum! Todo mundo gosta de você e estamos voando num jato para tirar fotos, pois o nosso álbum tinha ganhado Disco de Platina ou algo assim.
Jornalista: O show beneficente em 2005, referente ao tsunami na Indonésia, foi um ponto crucial para o ALICE IN CHAINS, sendo a primeira vez que vocês tocaram essas músicas após a morte de Layne Staley. Qual foi a sensação de tocar essas canções pela primeira vez sem ele?
(Longa pausa).
Kinney: Foi por outra causa que era maior do que nós e eu pessoalmente foquei nesta causa, porque também havia outras pessoas cantando para nós. Portanto, não foi realmente esse tipo de sentimento, embora estivesse envolvido também.
Cantrell: Houve um verdadeiro derramamento filantrópico em todo o mundo para ajudar aquelas pessoas necessitadas e nem estávamos realmente pensando em recomeçar com a banda, estávamos apenas pensando no evento e como ajudar. Mas a realidade de quando você está no palco se apresentando sem Layne e com um monte de amigos convidados se revezando nos vocais, foi aí que tudo se encaixou pra mim. Foi difícil, mas também foi um momento realmente curativo e importante.
Jornalista: Com o último álbum lançado pelo ALICE IN CHAINS em 2018, “Rainier Fog” (8º trabalho de estúdio, que marcou a primeira vez em mais de 20 anos que o grupo havia gravado em Seattle), a faixa-título foi uma homenagem às suas raízes iniciais em Seattle e a cena da época. Em que você estava pensando e o que motivou essa reflexão?
Cantrell: Tudo começa com a melodia e é aí que a minha mente e aquela vibração estavam quando comecei a ouvir aquela música. Você vai com a vibração... Eu estava apenas levando em consideração de onde viemos, o que passamos e como essa jornada é incrível, como estamos orgulhosos de ser de onde viemos e ter este reconhecimento pelo Prêmio Founders da cidade de Seattle, onde tudo isso está interconectado também.
Jornalista: A banda nativa de Seattle, HEART, abraçou você e muitos dos seus colegas no início. Quando você estava chegando, como era o seu relacionamento com as irmãs Wilson? E como foi ter alguém de Seattle que esteve no topo da montanha enquanto você estava subindo?
Cantrell: Foi muito significativo para todos nós, pois elas foram tão humanas, receptivas e compreensivas, além de poder pedir conselhos a elas. A ajuda delas nos ajudou a superar as coisas de uma forma muito mais rápida, pois tínhamos um relacionamento de irmãos.
Cantrell: Elas sempre estiveram lá para todos nós, cara. Para todas aquelas bandas da nova geração. Essa foi uma lição muito legal e uma afirmação para que elas fossem tão receptivas e abertas com o seu tempo, tocando as nossas músicas e nos incluindo nos seus compromissos. Ainda fico um pouco atordoado quando estou com elas, mas procuro não demonstrar.
Kinney: Elas apenas vivem e respiram música. Você meio que fica com ciúme delas... Cada vez que você está perto delas, alguma delas fala: "Pegue uma guitarra, vamos fazer uma jam!" É como, Jesus Cristo! E elas estão apenas "arrancando" músicas e não sabemos como elas sabem tudo aquilo! É tão incrível e lindo, tipo, parece um show privado às vezes.
Jornalista: Sean, você estava entre o grupo de investimento que reabriu o clube The Crocodile em 2009. O que The Crocodile significa para você e por que você quis se envolver para trazê-lo de volta à vida?
Kinney: É uma grande parte desta cidade. Tem uma grande história e esses locais são onde todos os próximos LED ZEPPELIN's irão aparecer e todas as coisas que vão continuar nos fazendo tagarelar sobre música. Esses locais são onde 99,9% dos músicos profissionais ganham a vida tocando e eles precisam existir.
Jornalista: Para finalizar essa entrevista, como você espera que a banda seja lembrada aqui em Seattle, quando o ALICE IN CHAINS se aposentar?
Cantrell: Isso é para as pessoas dizerem... Fizemos o que achamos que era certo e criamos algumas músicas com as quais nos importamos e outras pessoas parecem se importar também. Fazemos parte de uma comunidade que possui um elo artístico muito forte e estou feliz com isso.
Kinney: Espero que quando as pessoas olharem para este velho carro de Seattle, reconheçam o nosso amassado no para-choque, tipo: “Ah, aquele amassado ainda existe naquele para-choque? Não sei como essa coisa ainda pode ser dirigida... Deve ter sido o ALICE IN CHAINS” (risos).
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