sábado, 27 de maio de 2017

Chris Cornell: a colaboração com o Alice in Chains em 1991

CHRIS CORNELL partiu e, em meio a especulações, incompreensão e ao moralismo que um suicídio traz à tona, creio ser mais válido celebrar sua obra. Dono de uma poderosa voz, certamente uma das maiores do rock, o músico também será lembrado como um grande compositor e letrista. Ainda que sua carreira solo tenha sido irregular, Cornell foi peça fundamental de duas bandas relevantes: o AUDIOSLAVE, que embora não seja unanimidade, representou uma injeção de energia no moribundo rock do século XXI, e, sobretudo, o SOUNDGARDEN, vigoroso pilar da cena grunge.

Há muitas boas canções para celebrarmos o talento de Chris Cornell. Como “Flower”, “Outshined” e “Black Hole Sun”, no SOUNDGARDEN; o início triunfal no AUDIOSLAVE, com “Cochise”, à balada “Revelations”, do derradeiro álbum do supergrupo; “Hunger Strike”, dueto com Eddie Vedder no projeto TEMPLE OF THE DOG, ou “The Keeper” e “Seasons”, na carreira solo. Dentre muitos, muitos outros.


Todavia, vou destacar aqui uma música bastante subestimada da cena grunge, que conta com a participação de Chris Cornell: “Right Turn”, presente no EP Sap, do ALICE IN CHAINS, de 1992. Composto por faixas acústicas e contabilizando, ao todo, pouco mais de 20 minutos, o álbum teve a participação de Ann Wilson, do HEART, nas faixas “Brother” e “Am I Inside”, enquanto “Right Turn” teve Chris Cornell e Mark Arm, vocalista do MUDHONEY – por isso, no encarte do disco, a excussão da música é creditada à “Alice Mudgarden”.

O primeiro a soltar a voz em “Right Turn” é Jerry Cantrell, seu autor e a segunda voz mais protagonista do rock. A seguir, surge a imponente e inconfundível voz de Cornell, na segunda estrofe. Após o refrão, é a vez de Layne Stayle, vocalista principal do ALICE IN CHAINS, seguido por Mark Arm. Enfim, podemos ouvir, puxados por Chris Cornell, todos juntos.

A canção dura pouco mais de 03 minutos, é simples e seguramente não cairia nas graças como música de trabalho na indústria fonográfica. Mas justamente por essa simplicidade e, sobretudo, pelo talento de seus cantores, é uma música única e, porque não, uma obra-prima. Ela simboliza bem uma característica que tornou o momento musical de Seattle entre os anos 1980 e 1990 tão única: a proximidade entre os integrantes das bandas, gerando intercâmbios, influências e um saudável clima de competitividade.



Sap, sem grandes pretensões comerciais, teve recepção discreta, ainda mais com todos os holofotes sendo monopolizados pela repercussão avassaladora do álbum Nevermind, do NIRVANA. Em 1995, após “Got Me Wrong” ser incluída na trilha sonora do filme “O Balconista” (Clerks, no original, dirigido por Kevin Smith), o EP foi relançado. Anos depois, “Right Turn” foi incluída na trilha sonora de “Falcão Negro em Perigo” (Black Hawk Down, de Ridley Scott), em 2001.

Hoje, ao lembrar das bandas rotuladas como grunge, é inevitável pensar no fim trágico que rondou a trajetória de alguns daqueles músicos. O vício em drogas e bebida foi devastador para muitos deles, somado ao não menos destrutivo efeito de doenças mentais, sobretudo a depressão. Garanto que há muitas reflexões e análises econômicas e culturais a serem feitas sobre o assunto.

Limito-me, porém, a indicar que contemplemos a obra daquelas bandas. Porque a vida é artigo que se perde e, sobretudo por isso, não podemos perder a oportunidade de ouvir música boa.

Fonte: Digestivo Cultural
                     

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